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Qualis Capes Quadriênio 2017-2020 - B1 em medicina I, II e III, saúde coletiva
Versão on-line ISSN: 1806-9804
Versão impressa ISSN: 1519-3829

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Amamentação na primeira hora: associações com duração da amamentação exclusiva e alimentação complementar

Cátia Regina Ficagna1; Vanessa Machado Menezes2; Daniela Cortés Kretzer3; Paula Ruffoni Moreira4; Marcelo Zubaran Goldani5; Clécio Homrich da Silva6; Juliana Rombaldi Bernardi7

DOI: 10.1590/1806-9304202500000367 e20230367

RESUMO

OBJETIVOS: analisar a relação entre a amamentação na primeira hora de vida e a duração da amamentação exclusiva e continuada, bem como seu impacto na alimentação complementar.
MÉTODOS: estudo longitudinal com pares mãe-filho recrutados em dois hospitais públicos (2011–2016), com acompanhamento aos seis meses e entre três a cinco anos. As comparações de amamentação exclusiva, amamentação continuada e alimentação complementar foram realizadas utilizando o teste log-rank, curvas de Kaplan-Meier e o teste de Mann-Whitney.
RESULTADOS: um total de 352 bebês foi acompanhado, dos quais 198 (56,25%) foram amamentados na primeira hora de vida. A amamentação na primeira hora de vida foi associada à amamentação exclusiva aos dois meses (p=0,024), mas não com a amamentação continuada até um ano (p=0,183). A probabilidade de oferecer sal, açúcar e mel durante a alimentação complementar foi maior entre as crianças que não foram amamentadas na primeira hora de vida (p=0,035). No entanto, não houve diferença significativa na introdução de alimentos ultraprocessados (p=0,263), processados (p=0,162), e in natura (p=0,900).
CONCLUSÃO: a amamentação na primeira hora de vida foi associada à duração da amamentação exclusiva aos dois meses e a uma menor probabilidade de oferecer sal, açúcar e mel durante a alimentação complementar.

Palavras-chave: Amamentação, Nutrição infantil, Fenômenos fisiológicos nutricionais do lactente, Leite humano, Recém-nascido

ABSTRACT

OBJECTIVES: to analyze the relationship between breastfeeding within the first hour of life and the duration of exclusive and continued breastfeeding, as well as its impact on complementary feeding.
METHODS: a longitudinal study of mother-child pairs recruited from two public hospitals (2011-2016), with follow-up at six months and between three and five years. Comparisons of exclusive breastfeeding, continued breastfeeding, and complementary feeding were performed using the log-rank test, Kaplan-Meier curves, and Mann-Whitney test.
RESULTS: a total of 352 infants were followed, of whom 198 (56.25%) were breastfed within the first hour. Breastfeeding within the first hour was associated with exclusive breastfeeding at two months (p=0.024) but not with continued breastfeeding at one year (p=0.183). The probability of offering salt, sugar, and honey during complementary feeding was lower among children who were breastfeeding within the first hour (p=0.035). However, no significant difference was found in the introduction of ultra-processed (p=0.263), processed (p=0.162), and in natura (p=0.900) foods.
CONCLUSION: breastfeeding within the first hour was associated with exclusive breastfeeding at two months and lower probability of offering salt, sugar, and honey during complementary feeding.

Keywords: Breastfeeding, Child nutrition, Infant nutritional physiological phenomena, Human milk, Newborn

Introdução
A amamentação na primeira hora de vida, conhecida como a 'hora dourada', é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido a evidências que sugerem que essa prática pode reduzir a mortalidade neonatal e está positivamente associada à duração da amamentação (AM), incluindo o aleitamento materno exclusivo (AME).13 Além disso, a iniciação precoce da sucção estimula a produção de ocitocina e prolactina pela glândula pituitária da mãe, aumentando a produção e a liberação de leite, além de proporcionar benefícios imunológicos e psicossociais para o bebê, fortalecendo o vínculo entre mãe e filho. Essa prática também aumenta a probabilidade de o bebê receber o colostro, que é altamente nutritivo, de fácil digestão, rico em propriedades imunológicas e essencial para a maturação da mucosa intestinal.⁴
Estudos recentes também exploraram a relação entre a amamentação na primeira hora de vida e a duração tanto do AME quanto da AM continuada.⁵,⁶ Um estudo de coorte revelou que crianças amamentadas na primeira hora de vida consumiram significativamente menos doces, indicando um possível papel protetor da amamentação precoce nos hábitos alimentares posteriores.⁵
A qualidade dos alimentos introduzidos durante a alimentação complementar (AC) é crucial, pois está associada ao estado nutricional e à prevenção de sobrepeso, obesidade e outras doenças tanto a curto quanto a longo prazo.⁷,⁸ A introdução precoce de alimentos ultraprocessados tende a aumentar o consumo desses alimentos ao longo da infância.⁹
Embora haja evidências crescentes de que a amamentação na primeira hora de vida oferece benefícios para a duração do AME e da AM continuada, o impacto da amamentação precoce na AC permanece uma lacuna de conhecimento. Enquanto alguns estudos recentes sugerem efeitos positivos, são necessárias mais pesquisas para solidificar essa compreensão. Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a associação entre a amamentação na primeira hora de vida, a duração do AME, da AM continuada e a qualidade dos alimentos introduzidos durante a AC.

Métodos
Este é um estudo observacional longitudinal da coorte de nascimento "Impacto das Variações do Ambiente Perinatal na Saúde da Criança nos Primeiros Cinco Anos de Vida" (IVAPSA – sigla em português), fases 1 e 2. Na fase 1, mães e bebês foram recrutados entre 2011 e 2016 em dois hospitais públicos de alta complexidade em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Na fase 2, as mesmas crianças foram avaliadas entre 2017 e 2019 na mesma cidade. O protocolo do estudo e os resultados iniciais já foram publicados.1,11
As crianças elegíveis nasceram a termo no GHC (Grupo Hospitalar Conceição) e no HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre), sem malformações congênitas ou outras doenças. Mulheres com teste positivo para HIV, gravidez múltipla, diabetes tipo 1 ou 2 (independentemente do período de diagnóstico), hipertensão arterial sistêmica, tabagistas ou que tiveram parto prematuro (<37 semanas) foram excluídas, assim como bebês com doenças agudas, defeitos congênitos ou pequenos para a idade gestacional. Todas as mães e bebês estavam juntos na maternidade no momento do recrutamento, sem riscos de saúde identificados. Bebês que perderam o seguimento nas fases 1 ou 2 também foram excluídos.
Os dados sobre AME, AM e AC foram coletados prospectivamente na fase 1, entre 24 e 48 horas pós-parto na maternidade, seguidos de entrevistas realizadas em visitas domiciliares aos 7, 15 e 90 dias. Entrevistas foram realizadas em casa ou no centro de pesquisa clínica localizado no HCPA aos 30 e 180 dias do período pós-parto. Na fase 2, os dados retrospectivos foram coletados por meio de entrevistas e avaliações no Centro de Pesquisa Clínica do HCPA, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Dados sociodemográficos (idade materna, raça/cor, escolaridade, ocupação, estado civil, renda familiar e sexo da criança) foram obtidos por meio de questionários administrados no pós-parto nos hospitais participantes.
Os recém-nascidos foram divididos em dois grupos: Grupo 1: crianças amamentadas dentro de 60 minutos após o nascimento; Grupo 2: crianças amamentadas somente após 60 minutos. Os recém-nascidos foram considerados amamentados na primeira hora de vida se receberam qualquer quantidade de leite materno dentro de 60 minutos após o nascimento.12 Para avaliar a duração do AME, alimentação mista (AM), uso de fórmula infantil e AC, foram feitas perguntas como: "A criança recebeu algum outro alimento ou líquido?", "Quando sólidos ou líquidos foram introduzidos?" e "Se não está mais amamentando, quando parou?". Aos 15, 30, 90 e 180 dias, as perguntas incluíram se a criança "recebe leite materno", "se não, quando parou", "recebe leite materno exclusivamente" e "recebe ou recebeu outros tipos de leite" e, em caso afirmativo, "quando foi introduzido". Um questionário foi usado para reunir dados sobre a introdução de líquidos e alimentos sólidos. As mães foram questionadas sobre a introdução de açúcar, chocolate, mel, café, frutas, papinha, sopa industrializada, vegetais, leguminosas, carne, ovos, embutidos, biscoitos recheados, doces, snacks, gelatina, sorvete, frituras, refrigerantes, suco natural, iogurte e suco artificial.13
Os alimentos líquidos e sólidos introduzidos durante a AC foram categorizados de acordo com a classificação NOVA, conforme orientado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira.12 Alimentos ultraprocessados incluíram achocolatados, balas, pirulitos, biscoitos doces (com ou sem recheio), chocolates, bombons, embutidos, gelatinas, petit suisse, refrigerantes, snacks salgados e sucos artificiais. Alimentos in natura ou minimamente processados incluíram suco natural, ovos, miúdos, leguminosas, frutas e carnes. Ingredientes culinários foram categorizados como açúcar, sal e mel, enquanto alimentos processados incluíram iogurte, enlatados e frituras.
As variáveis contínuas paramétricas foram expressas em média ± desvio padrão (DP). Variáveis contínuas não paramétricas foram expressas em mediana e intervalo interquartil. Variáveis categóricas foram expressas em números absolutos e percentuais. Para comparar as amostras, foi utilizado o teste do qui-quadrado para variáveis categóricas e o teste de Mann-Whitney para variáveis contínuas não paramétricas. Para a análise do tempo de aleitamento materno exclusivo, aleitamento materno e sua relação com a introdução de alimentos complementares, foram utilizados o teste log-rank e curvas de Kaplan-Meier. Para as análises, foi considerado um nível de significância de 5% (p<0,05) e intervalo de confiança de 95%. Os dados foram analisados com o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0.
A pesquisa foi aprovada pelos comitês de ética em pesquisa do HCPA e do GHC, respectivamente, sob os números 20110097 e 2011027 (Fase 1) e 20170107 (Fase 2).

Resultados
O estudo incluiu 352 pares mãe-bebê, com 198 bebês (56,25%) amamentados na primeira hora de vida (Grupo 1) e 154 bebês (43,75%) amamentados após a primeira hora (Grupo 2). Mulheres brancas foram a maioria em ambos os grupos, representando 60% da amostra, sem diferença significativa na raça autodeclarada entre os grupos (p=0,496). A idade materna média foi de 26,3 ± 6,6 anos, e a média de anos de escolaridade foi de 9 ± 2 em ambos os grupos (p=0,051). A amamentação na primeira hora foi associada ao parto vaginal (p=0,001) e a um maior número de filhos (p=0,004). Além disso, um maior número de consultas pré-natais foi associado a não amamentar na primeira hora de vida (p=0,017) (Tabela 1).
 


Não houve diferença significativa entre os bebês amamentados na primeira hora e os bebês amamentados após a primeira hora em relação ao tempo de AME (p=0,082) e ao tempo de AM (p=0,370) (Tabela 2). A Figura 1 apresenta as curvas de sobrevivência para AM e AME, indicando diferenças entre as crianças amamentadas na primeira hora e aquelas amamentadas posteriormente. A amamentação na primeira hora de vida foi associada ao aleitamento materno exclusivo aos 2 meses (p=0,024), mas não ao aleitamento continuado ao longo de 1 ano (p=0,183) (Figuras 1A e 1B).
 



 


A probabilidade de introdução de alimentos complementares, com base no nível de processamento (ultraprocessados, processados, in natura e ingredientes culinários), está apresentada na Tabela 3. A probabilidade de introdução de ingredientes culinários foi maior entre as crianças que não foram amamentadas na primeira hora (p=0,035). A introdução de outros grupos alimentares não foi associada à amamentação na primeira hora. A Figura 2 mostra as curvas de sobrevivência para a introdução de alimentos complementares de acordo com o nível de processamento. Crianças que não foram amamentadas na primeira hora apresentaram maior probabilidade de introdução precoce de ingredientes culinários (p=0,037) (Figura 2B).
 



 



Discussão
Neste estudo, a amamentação na primeira hora de vida foi associada ao AME aos dois meses e a uma menor probabilidade de introdução de ingredientes culinários, como sal, açúcar e mel, durante a AC. A amamentação na primeira hora de vida também foi associada à paridade materna; mães com mais filhos tinham maior probabilidade de amamentar na primeira hora. Além disso, o parto vaginal e o número de consultas pré-natais também mostraram associação com a prática de amamentação na primeira hora de vida.
Os resultados revelaram, ainda, um declínio na amamentação e no AME durante o primeiro ano de vida. Apesar da recomendação de AME por seis meses, avaliamos essa prática aos dois meses, pois dados do ENANI indicam que essa é uma idade crítica para a interrupção do AME. A probabilidade de introduzir ingredientes culinários durante a AC foi maior entre crianças que não foram amamentadas na primeira hora. Outros estudos corroboram esse resultado, mostrando o papel protetor da amamentação precoce em práticas alimentares mais saudáveis.3⁻⁵
O parto vaginal foi identificado como um fator protetor para a amamentação na primeira hora de vida, assim como maior paridade materna. Esses achados estão alinhados com estudos internacionais que também associam o parto vaginal à amamentação precoce.1,1⁶ Mulheres que passam por cesáreas podem enfrentar dor e estresse no período pós-parto, além de maior probabilidade de síndrome do desconforto respiratório nos recém-nascidos.1,1⁸ Esses fatores podem prejudicar o início da amamentação na primeira hora de vida. Dessa forma, sugere-se a adesão a políticas de promoção e proteção do aleitamento materno, com ênfase na importância da equipe multidisciplinar e no trabalho colaborativo para garantir um atendimento de qualidade à díade mãe-bebê na primeira hora após o nascimento.
A prevalência-alvo para a amamentação na primeira hora de vida, segundo a OMS, é de 70%.13 Neste estudo, mais da metade das crianças foram amamentadas na primeira hora. Prevalências semelhantes foram reportadas em outros estudos (43,5%; 74%).1⁸⁻2⁰ Isso destaca que ainda estamos longe das metas da OMS e sublinha a necessidade de campanhas de conscientização e educação em comunidades e unidades de saúde. A OMS recomenda que a amamentação na primeira hora de vida seja protegida e incentivada.21 Para promover essa prática, é fundamental também estimular o parto vaginal, que tem sido associado a maiores taxas de amamentação precoce. Um estudo na Tanzânia, por exemplo, mostrou um aumento de 51% para 74% na amamentação precoce após a educação de gestantes sobre a importância do colostro e do AME.22
Neste estudo, observou-se que mulheres que não amamentaram na primeira hora realizaram um maior número de consultas pré-natais. Embora os dados não permitam determinar a causa dessa associação, fatores como complicações gestacionais, maior adesão ao acompanhamento médico ou diferenças no acesso aos serviços de saúde podem ter influenciado esse achado. Essa relação reforça a necessidade de mais estudos para investigar os possíveis motivos que impactam o início da amamentação na primeira hora de vida. Outros estudos mostram que o acesso à informação é crucial para o sucesso da amamentação.22,23 Assim, é essencial proteger e promover o aleitamento materno, garantindo orientação e suporte durante o pré-natal por todos os profissionais de saúde envolvidos.
A amamentação na primeira hora de vida foi associada ao AME aos dois meses. A maioria dos casos de desmame precoce ou interrupção da amamentação ocorre nos primeiros 90 dias após o nascimento, especialmente no segundo mês de vida da criança. Esse achado destaca o papel protetor da amamentação precoce para prevenir o desmame nesse período crítico. Embora desempenhe um papel protetor, a amamentação precoce não é o único fator que influencia a duração do aleitamento. Outras variáveis, como peso ao nascer, idade gestacional, tabagismo materno e escolaridade, também desempenham papeis significativos nos desfechos do aleitamento materno.2⁴⁻2
A amamentação na primeira hora de vida não foi associada a uma maior duração do aleitamento ao longo do primeiro ano de vida. Em ambos os grupos – amamentados ou não na primeira hora – foi observado um declínio significativo nas taxas de amamentação. Fatores socioeconômicos, como emprego e renda materna, podem contribuir para essa interrupção precoce. Neste estudo, as mães foram recrutadas em hospitais públicos, sendo a maioria de baixa renda. É provável que os fatores socioeconômicos tenham influenciado o declínio nas taxas de amamentação.
A amamentação na primeira hora de vida foi associada a uma menor probabilidade de introdução de ingredientes culinários, como açúcar, sal e mel, durante a AC. Um estudo semelhante demonstrou uma introdução precoce de líquidos, mel, açúcar e doces, além de um consumo significativamente menor de doces entre crianças amamentadas na primeira hora de vida.⁵ Embora existam evidências limitadas sobre o papel protetor da amamentação precoce contra práticas inadequadas na AC, os benefícios da amamentação precoce provavelmente se estendem à AC. Além disso, as condições socioeconômicas maternas também podem influenciar a oferta ou omissão desse tipo de alimento.
A literatura mostra que maiores durações de AME e AM estão associadas a padrões alimentares mais saudáveis na infância, incluindo maior consumo de alimentos saudáveis e melhor aceitação e variedade de frutas, verduras e legumes.2⁷⁻2⁹ Por outro lado, períodos mais curtos de amamentação estão associados a maior introdução de alimentos ultraprocessados no primeiro ano de vida, além de maiores taxas de introdução precoce de mel, açúcar e doces.⁵,⁶ Segundo a OMS, a amamentação na primeira hora de vida está diretamente relacionada ao sucesso do aleitamento durante o primeiro ano.12 Além disso, a prática está associada a uma colonização mais rápida da microbiota infantil, ao melhor desenvolvimento dos reflexos de sucção e pega, ao fortalecimento do vínculo mãe-bebê, ao melhor controle glicêmico e à redução da incidência de infecções respiratórias e síndrome da morte súbita infantil.30
Este estudo apresentou algumas limitações. Uma das principais foi que as informações sobre amamentação ao longo de 1 ano e AC foram autorrelatadas pela mãe de forma retrospectiva, o que pode introduzir viés de recordação. No entanto, o AME foi avaliado prospectivamente, mitigando essa preocupação para esse desfecho. Outra limitação é que a amostra foi recrutada em um hospital público de alta complexidade que atende principalmente gestantes de alto risco, o que pode refletir em menores taxas de amamentação na primeira hora de vida.
Por outro lado, é importante destacar os pontos fortes deste estudo. Entre os aspectos positivos estão o delineamento longitudinal e o acompanhamento detalhado das crianças durante períodos críticos, como o puerpério, os meses após o nascimento e a primeira infância, fornecendo insights valiosos sobre a amamentação e a introdução de alimentos complementares.
Os achados deste estudo demonstraram que a amamentação na primeira hora de vida foi associada ao AME aos dois meses e a uma menor probabilidade de introdução de ingredientes culinários, como açúcar, sal e mel, durante a AC. Esses resultados reforçam os benefícios da amamentação precoce tanto para o AME quanto para a AC. Estudos longitudinais adicionais são necessários para explorar essa relação em outras populações.

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Agradecimentos: Gostaríamos de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre/Fundo de Incentivo à Pesquisa e Eventos (FIPE) pelo apoio financeiro.

Contribuição dos autores: Ficagna CR, Menezes VM, Kretzer DC, Moreira PR, : análise de dados, revisão de literatura, escrita e revisão do manuscrito.
Goldani MZ, Silva CH, Bernardi JR: coordenador da pesquisa, análise de dados, revisão do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão final do artigo e declaram não haver conflito de interesses.

Recebido em 29 de Novembro de 2023
Versão final apresentada em 6 de Dezembro de 2024
Aprovado em 10 de Dezembro de 2024

Editor Associado: Gabriela Buccini

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