Prezado editor,
A prematuridade é estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, quando um bebê nasce antes de 37 semanas, podendo também ser chamado de pré-termo. Ainda se pode realizar uma subclassificação, como extremamente prematuro quando o nascimento ocorre antes de 28 semanas de gestação, muito prematuro quando o nascimento ocorre entre 28 e 32 semanas de gestação e prematuro moderado a tardio quando acontece entre 32 e 37 semanas de gestação.1 O nascimento pré-termo é uma das principais causas de morbimortalidade neonatal, podendo levar a complicações de curto e longo prazo, como problemas intelectuais, de crescimento e o aparecimento antecipado de doenças crônicas, o que é incomum em bebês nascidos a termo. Os riscos trazidos pela prematuridade são inversamente proporcionais à idade gestacional na qual ocorreu o parto, tornando neonatos considerados extremamente imaturos como os mais suscetíveis aos problemas relacionados ao quadro
2.
Analisando detalhadamente a publicação "Treinamento em cuidados infantis e técnicas de auriculoterapia a mães de recém nascidos prematuros: ensaio clínico duplo-cego", observa-se que informações importantes dos resultados não foram apresentadas e que merecem ser esclarecidos pela sua utilidade como evidência científica e na prática clínica.
Na Tabela abaixo, apresentamos os dados da Tabela 3 da pesquisa de Ghasempour
et al.
3 com complementos de informações medida de efeito clínico (Cohen's d) para os desfechos significativos.
4 Primeiramente, constata-se que o grupo treinamento produziu um efeito clínico classificado como grande (d=0,99), enquanto que o grupo auriculoterapia apresentou efeito médio (d=0,78) na redução da ansiedade. Apesar dos efeitos clínicos de relevância, o grupo treinamento apresentou melhor desempenho neste desfecho. Da mesma forma, no desfecho estresse, o efeito clínico é muito semelhante, sendo ambos de magnitude grande (d≥0,80) (Tabela 1).
Quanto ao desfecho depressão, verifica-se um efeito clínico grande e médio para o grupo treinamento e auriculoterapia, respectivamente, na redução dos sintomas depressivos. Contudo, o grupo controle revelou piora dos sintomas depressivos considerada quase de médio efeito, o que ressalta a importância de suporte psicológico para evitar esse desfecho. Esta informação não foi apresentada nos resultados, apenas mostraram a diferença estatística sem a sua real semântica (Tabela 1).
Para o desfecho resposta de enfrentamento, observa-se que tanto o grupo controle, auriculoterapia e treinamento tiveram efeitos clínicos relevantes (d≥0,50). Entretanto, o grupo treinamento mostrou um efeito clínico muito grande para as respostas de enfrentamento (d≥1,20), mais de duas vezes o efeito do grupo auriculoterapia. Além disso, é possível destacar que a própria história natural do evento produz melhora contundentes nas respostas de enfrentamento (controle: d=0,50). Este mesmo padrão é constatado para o desfecho orientado para problemas (Tabela 1).
Essas novas informações de efeito clínico e direcionamento do efeito são úteis na avaliação da aplicabilidade prática das intervenções, pois apenas diferenças estatísticas não são suficientes para uma utilização dos achados de pesquisa. Portanto, o grupo treinamento mostra-se ser mais eficiente na melhora dos sintomas de ansiedade, depressão, resposta de enfrentamento e orientado a problema que a auriculoterapia. Além disso, a ausência de intervenção piora os sintomas depressivos e, diferentemente, ajuda na resposta de enfrentamento e orientação aos problemas.
Referências1. World Health Organization (WHO). Preterm birth [Internet]. Geneva: WHO; 2023. [acesso em 2024 Nov 7]. Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/preterm-birth2. Ohuma EO, Moller AB, Bradley E, Chakwera S, Hussain-Alkhateeb L, Lewin A, et al. National, regional, and global estimates of preterm birth in 2020, with trends from 2010: a systematic analysis. Lancet. 2023 Oct 7; 402 (10409): 1261-71.
3. Ghasempour Z, Abolhassani M, Gholami A, Karimi F, Dokhaei M, Rabiee N. Training in child care and carrying out auriculotherapy techniques for mothers of premature newborns: double-blind clinical trial. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2024; 24: e20220391.
4. Kallogjeri D, Piccirillo JF. A Simple Guide to Effect Size Measures. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2023 May; 149 (5): 447-51.
Contribuição dos autores: Todos os autores participaram na construção da carta ao editor e aprovaram a versão final. Os autores declaram não haver conflito de interesse.
Recebido em 17 de Dezembro de 2024
Versão final apresentada em 18 de Dezembro de 2024
Aprovado em 18 de Dezembro de 2024
Editor Associado: Alex Sandro Souza