, Eduardo Jorge da Fonseca Lima1

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Qualis Capes Quadriênio 2017-2020 - B1 em medicina I, II e III, saúde coletiva
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EDITORIAL


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A COVID -19 e a pediatria: um olhar para o passado e futuro

Eduardo Jorge da Fonseca Lima1

DOI: 10.1590/1806-9304202200040001

A pandemia covid-19 foi devastadora em todo o mundo. as crianças foram aparentemente poupadas no início da pandemia, onde até outubro de 2021, segundo a organização mundial da saúde (oms), as menores de cinco anos representavam 2% dos casos e 0,1% das mortes globais.1 Entretanto, o cenário epidemiológico sofreu mudanças importantes com aumento dos casos entre crianças e adolescentes em 2022. Os dados mundiais revelam que crianças menores de cinco anos e entre cinco e 14 anos representam atualmente 2,47% e 10,44% dos casos de COVID-19, respectivamente.2

A maior mortalidade da doença na pediatria ocorreu nospaíses de baixa e média renda, sobretudo nos menores de um ano de idade3 refletindo mais uma vez como a renda afeta de forma marcante a saúde infantil e não foi diferente com a COVID-19, onde o pior acesso a assistência médica também determinou indicadores de mortalidade.4

O Brasil respondeu por cerca de uma em cada cinco dessas mortes na idade pediátrica no mundo e a doença matou cerca de duas crianças menores de cinco anos por dia, sendo que a região Nordeste concentrou quase metade desses óbitos.5

Foi verificado que as manifestações pediátricas da Covid longa aparecem em uma frequência de 25,24%, sendo as alterações do humor (16,50%), fadiga (9,66%) e distúrbios do sono (8,42%) as principais.6 Contudo, o lado oculto da pandemia foi ainda mais dramático para as nossas crianças. Houve perdas importantes de pais e avós cuidadores levando a um sofrimento psíquico de difícil mensuração. Com a ausência de aulas regulares houve também a perda do apoio nutricional oferecido pela merenda escolar e a redução das atividades físicas. Além disso, a ocorrência de maus-tratos, violência sexual, gravidez na adolescência associadas acentuaram as desigualdades sociais já existentes.7

A vacinação teve papel essencial na luta contra a COVID-19, possibilitando a redução das taxas de doença grave e mortalidade, além de conter a disseminação da doença.8 As crianças, poderão desempenhar papel importante na transmissão desta nova doença respiratória sendo um possível reservatório do vírus.9,10

As crianças e adolescentes, por segurança, foram excluídos dos ensaios clínicos iniciais, e a vacinação neste grupo só foi introduzida tardiamente.11 No Brasil, a vacina de vírus inativados da farmacêutica Sinovac Biotech (CoronaVac) recebeu aprovação para a imunização da população pediátrica com idade acima de três anos, e a vacina de RNA mensageiro (mRNA) BNT162b2, desenvolvida em colaboração pelos laboratórios Pfizer e BioNTech, foi autorizada para adolescentes de 12 a 18 anos. Posteriormente, crianças de cinco a 11 anos com uma apresentação especial contendo um terço da dose padrão e em setembro de 2022 de uma outra apresentação pediátrica, correspondente a um décimo da dose de adulto, para uso em crianças de seis meses a três anos.11-13

A introdução tardia de vacinas em crianças combinada com o surgimento de novas variantes e sub-variantes com maior capacidade de transmissão, resultaram em um aumento proporcional de infecções em crianças menores.13 As desigualdades na distribuição de vacinas, a hesitação vacinal, a desinformação, complexidades políticas, fazem com que a cobertura vacinal ainda seja insuficiente para contenção da pandemia.9

A prevenção da infecção por SARS-CoV-2 em lactentes jovens incluem a proteção induzida pela vacinação materna. Os estudos de efetividade em gestantes demonstraram que este grupo se beneficiou significativamente da vacinação.14-16 As mães vacinadas antes ou durante a gravidez também transferem anticorpos específicos para seus bebês por via transplacentária e por meio do leite materno com proteção dos mesmos.17,18 Ressalta-se que os lactentes jovens são uma das populações pediátricas mais frequentemente hospitalizadas por infecção por SARS-CoV-219 e a maioria destas crianças não apresentam comorbidades.18

A segurança do uso de novas vacinas e o monitoramento doseventos adversos será sempre uma grande preocupação. Os raros casos de miocardite e pericardite que foram observados em adolescentes e adultos jovens recebendo especialmente vacinas de plataforma RNAm parecem ser dose e intervalos dependentes e ainda não foram relatados com vacinas pediátricas de dose mais baixa em populações mais jovens.20-24

Considerando os benefícios gerais para a sociedade e as próprias crianças, é urgente fortalecer medidas de apoio a vacinação COVID-19 em pediatria e ampliar os grupos protegidos.25,26 Os benefícios da vacinação infantil com as vacinas SARS-CoV-2 superam em muito os riscos de adquirir a infecção quando não vacinados, colocando a vacina entre as mais importantes para a saúde infantil como outras vacinas de rotina.27

O receio dos pais sobre segurança é um importante fator de influência na decisão de vacinar as crianças. Os governos devem ter uma comunicação efetiva para a redução dos vários aspectos que envolvem a hesitação vacinal.28,29

As crianças foram um grande elo frágil nesta pandemia, sendo acometidas direta e indiretamente com perdas que terão suas consequências por vários anos. Precisamos de um olhar verdadeiramente comprometido com esta causa.


Referências

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