Publicação Contínua
Qualis Capes Quadriênio 2017-2020 - B1 em medicina I, II e III, saúde coletiva
Versão on-line ISSN: 1806-9804
Versão impressa ISSN: 1519-3829

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Promoção da alimentação adequada e saudável na educação infantil: uma revisão sistemática

Jéssica de Melo Araújo Moreira1; Mariana Fernandez Barbosa2; Rafaele Rosa Febrone3; Camila da Silva de Castro4 Leticia Sales Pereira5; Rosane Valéria Viana Fonseca Rito6

DOI: 10.1590/1806-9304202300000238 e20220238

RESUMO

OBJETIVOS: identificar e descrever as características de estudos que abordam a promoção da alimentação adequada e saudável em unidades de educação infantil e suas repercussões na comunidade escolar.
MÉTODOS: a busca e seleção foram realizadas segundo as recomendações do PRISMA nas bases de dados Medline via OVID, EMBASE e LILACS. A extração de dados ocorreu utilizando uma tabela elaborada pelas autoras. A avaliação da qualidade das evidências dos estudos foi realizada por meio do risco de viés utilizando uma escala adaptada.
RESULTADOS: foram selecionados 12 artigos que atenderam aos critérios de elegibilidade. Todos os estudos foram aplicados em instituições de ensino públicas ou privadas com uma mediana de 236 participantes. Na análise das atividades de educação alimentar e nutricional, as mais adotadas com os pré-escolares foram as lúdicas; com os pais foram as reuniões e aconselhamentos; e com os profissionais foram as capacitações. A qualificação metodológica dos estudos foi considerada baixa, podendo estar relacionada às limitações dos próprios estudos incluídos nesta revisão, principalmente pelos tipos de desenhos adotados, o tempo e a falta de continuidade das intervenções e tamanho amostral.
CONCLUSÃO: atividades de educação alimentar e nutricional parecem ser uma estratégia promissora na disseminação do conhecimento, adoção de práticas alimentares saudáveis e transmissão de valores na comunidade escolar.

Palavras-chave: Criança, Pré-escolar, Educação alimentar e nutricional, Nutrição da criança, Educação pré-escolar

ABSTRACT

OBJECTIVES: to identify and describe the characteristics of studies that address the promotion of adequate and healthy food in early childhood education units and their repercussions on the school community.
METHODS: the search and selection were performed according to the PRISMA recommendations in the Medline databases via OVID, EMBASE and LILACS. Data extraction took placeusing a table developed by the authors. The evaluation of the quality of the evidence of the studies was carried out through the risk of bias using an adapted scale.
RESULT: twelve articles that met the eligibility criteria were selected. All studies were applied in public or private educational institutions with a median of 236 participants. In the analysis of food and nutrition education activities, the most adopted with preschoolers were playful; with the parents it was the meetings and counseling; and with the professionals it was the training. The methodological qualification of the studies was considered low, which may be related to their limitations included in this review, mainly due to the types of designs adopted, the time and lack of continuity of interventions and sample size.
CONCLUSION: food and nutrition education activities seem to be a promising strategy in knowledge, adoption of healthy eating practices and transmission of values in the school community.

Keywords: Child, Preschool child, Food and nutrition education, Child nutrition, Preschool education

Introdução

A alimentação de uma criança se inicia com o aleitamento materno (AM), como preconizado pela Organização Mundial da Saúde, exclusivo durante o primeiro semestre de vida e, após esse período, complementado por outros alimentos pelo menos até os dois anos de idade. 1,2 Tais práticas apresentam importantes benefícios, principalmente para o crescimento, o desenvolvimento e a saúde a curto, médio e longo prazo. 3-7

Considerando que a Primeira Infância é uma etapa de intenso desenvolvimento infantil e formação de hábitos, a introdução da alimentação complementar precisa ser oferecida também na perspectiva da alimentação adequada e saudável (AAS). Essa deve ser feita de maneira regular, respeitando os horários e as particularidades da criança, com a introdução de alimentos variados, in natura e minimamente processados, de forma atrativa sensorialmente e provendo as refeições junto à família. 2,8

As unidades de educação infantil (UEI) se configuram como uma rede de apoio, complementando a ação da família, com o intuito de auxiliar na formação de cidadãos e de hábitos, dentre estes os alimentares. Tais unidades têm um papel determinante na disseminação do conhecimento e trabalho coletivo, transdisciplinar e intersetorial, incluindo ações de promoção da saúde. São considerados espaços privilegiados que propiciam contato direto com as crianças e seus responsáveis, facilitando o desenvolvimento de ações de educação em saúde. 9

As creches, berçários e pré-escolas são exemplos de UEI, que podem atender crianças do nascimento até os seis anos de idade, etapa essa definida como Primeira Infância, a depender do tipo de gestão organizacional. 10,11 Essas instituições são ambientes propícios para o aprimoramento de hábitos alimentares saudáveis porque são locais onde os pré-escolares passam grande parte do seu tempo e recebem até cerca de 40% das suas necessidades nutricionais. 9,12,13

Atividades de educação alimentar e nutricional (EAN) na educação infantil (EI) têm entre os seus objetivos influenciar práticas alimentares saudáveis, incluindo a valorização da amamentação e da alimentação complementar saudável, e o desenvolvimento de autonomia. A EAN é um processo permanente, que leva em consideração a troca de saberes, a individualidade e os hábitos alimentares culturais fazendo o uso de abordagens e processos educacionais complexos e ativos que favoreçam a comunicação com os indivíduos e seus grupos populacionais, considerando todas as fases da vida. 9,14

Nessa perspectiva também vale ressaltar a importância do lúdico, palavra que vem do latim e significa "jogos" e "brincar". Por meio do lúdico, uma ação educativa pode contribuir para um melhor aproveitamento das atividades de EAN, pois o mesmo facilita o aprendizado tornando-o mais interativo, divertido e tendo uma intenção, objetivo e consciência das ações em relação ao desenvolvimento e aprendizagem infantil. 15,16

Considera-se a hipótese de que UEI que desenvolvem atividades de EAN, como meio de promover a AAS, têm o potencial de influenciar positivamente o conhecimento sobre alimentação e a adoção de práticas alimentares saudáveis pela comunidade escolar. 9,14 Porém, ainda não se encontra na literatura uma reunião dos achados sobre as influências dessas práticas nessa fase escolar.

Face ao exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar e descrever as características de pesquisas que abordam a promoção da AAS em UEI e suas repercussões na comunidade escolar.


Métodos

A presente revisão sistemática foi realizada segundo o protocolo Preferred Reporting Items for Systemactic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). 17 Com a pergunta norteadora: "UEI (creches e pré-escolas) que desenvolvem atividades de EAN voltadas para a comunidade escolar, como meio de promover a AAS, têm o potencial de influenciar positivamente a adoção de práticas alimentares saudáveis pela comunidade escolar?"

Essa foi elaborada por meio da estratégia de busca do acrônimo PICO18: "P" (população) refere-se a comunidade escolar de UEI; "I" (intervenção) diz respeito à promoção da AAS por meio de ações de EAN; "C" (comparação) se relacionou à comparação do grupo com ele mesmo antes e após a intervenção; e "O" (desfecho/resultado), trata do conhecimento adquirido sobre AAS e adoção de práticas alimentares saudáveis pela comunidade escolar.

A pesquisa foi realizada após o cadastro na plataforma International Prospective Register of Systemactic Reviews (PROSPERO) sob o registro: CRD 42021253335, entre os meses de outubro de 2020 e agosto de 2021, sendo feitas as buscas nas bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), consultado por meio do OVID; Excerpta Medica Database (EMBASE) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando os descritores "Child", "Preschool child" conforme sugerido no MeSH (Medical Subject Headings) e o seus termos alternativos "Children", "Preschool", "Preschool Children" e o descritor "Food and Nutrition Education", sendo utilizados os operadores booleanos "and" e "or" para auxiliar na combinação - child (ab.ti) OR preschool child (ab.ti) AND food and nutrition education (ab.ti); child (ab.ti) OR preschool (ab.ti) AND food and nutrition education (ab.ti); child (ab.ti) OR preschool children (ab.ti) AND food and nutrition education (ab.ti); children (ab.ti) OR preschool (ab.ti) AND food and nutrition education (ab.ti). Na base de dados LILACS a busca também foi realizada com os termos em português e espanhol.

Descartaram-se artigos duplicados encontrados nas diferentes bases de dados com o auxílio do programa Mendeley e manualmente. A análise de seleção dos estudos foi feita pela leitura dos títulos e dos resumos. Os artigos selecionados para leitura na íntegra foram aqueles que apresentavam como intervenções atividades de EAN com pré-escolares em UEI.

Foram considerados os seguintes critérios de inclusão para a seleção dos artigos: estudos realizados em UEI que promoviam atividades de EAN voltadas para a comunidade escolar (alunos de zero a seis anos, pais e profissionais); publicados em português, inglês e espanhol, e sem delimitação por período. Os critérios de exclusão foram: estudos que não apresentavam metodologia definida; de revisão; de relatos de casos; descritivos; com abordagem qualitativa; os com impossibilidade de acesso à publicação impressa ou online, bem como os artigos que apresentavam conflitos de interesse declarado.

A extração de dados foi realizada por meio de tabela, previamente elaborada pelas autoras, na qual foram destacadas as informações: 1) de identificação: título e nome do autor; pesquisador responsável; ano de publicação; referência, e local; 2) de elegibilidade: critérios de inclusão e razões de exclusão; 3) de método: desenho; duração; participantes (número, idade, sexo e características sócio-demográficas); informações sobre viés; registro ético; consentimento de participação; intervenção (número de grupos, tipos de atividades de EAN, tempo de realização da atividade, frequência, material, existência de protocolo e duração da intervenção; fonte de financiamento, e conflito de interesses; 4) de RESULTADOS: número de participantes (antes e depois da intervenção); tipo de análise estatística; estimativa de efeito (intervalo de confiança e/ou p-valor); desfecho, e principais conclusões.

A síntese dos dados consistiu na análise das informações extraídas acerca dos resultados obtidos dos estudos individuais e incluídos nesta revisão, que foram resumidos em uma tabela para gerar reflexões válidas e lógicas. Para tanto, foi considerado se os resultados de todos os estudos incluídos estavam claramente disponíveis; se os efeitos observados eram consistentes entre os estudos, e se havia possíveis razões para quaisquer inconsistências.

A avaliação da qualidade das evidências dos estudos foi realizada por meio do risco de viés, utilizando-se uma escala adaptada. Verificou-se nos estudos: presença de resumo estruturado, introdução com embasamento e justificativa; método de recrutamento da população; seleção da população/amostra; instrumento de coleta de dados; taxa de não-resposta informada; treinamento dos entrevistadores; realização de análise estatística; limitação do estudo e vieses considerados; resultados interpretados segundo evidências e generalização dos resultados. 19-21

Na avaliação da qualidade de evidências de cada estudo poderia se atingir uma pontuação máxima de 29 pontos de acordo com os critérios, sendo o "escore zero" quando a informação não estava especificada no texto ou quando não apresentava os critérios mínimos de classificação de qualidade e sendo considerado um estudo de alta qualidade de evidência quando o escore atingia entre 22 à 29 pontos. 19-21 No entanto, esta classificação não teve o intuito de excluir estudos, apenas de fornecer elementos que embasassem a discussão dos diferentes resultados.

A discussão foi feita por meio de uma abordagem narrativa planejada dos achados. Todas as etapas foram realizadas por duas revisoras independentemente. Nos casos de divergências foram discutidos por essas e, mantendo-se a divergência, a opinião de especialistas foi ouvida. As autoras declaram não haver conflitos de interesse.


Resultados

Todo o processo de seleção, desde as etapas de identificação, rastreamento e elegibilidade até a inclusão dos artigos na revisão sistemática estão demonstradas na Figura 1. A busca inicial identificou 2.737 estudos, nas bases de dados, excluindo-se as duplicatas. Apenas 12 artigos atenderam aos critérios de elegibilidade e foram incluídos na revisão sistemática para análise. A síntese dos dados dos artigos selecionados foi descrita na Tabela 1.

 







Os estudos selecionados apresentaram uma variação entre 26 a 781 participantes, com mediana de 236 participantes. Desses, quatro artigos foram realizados com pré-escolares;22-25 quatro com pré-escolares, pais e profissionais;26-29 dois com pré-escolares e profissionais;30,31 um com pré-escolares e pais;32 e um com pais e profissionais. 33

Houve uma variabilidade de tempo entre os estudos de dez a 392 dias, com mediana de 238 dias. Sendo a maioria dos artigos (nove) com aplicação de atividades de EAN em UEI públicas;22,23,24,26,27,28,30,31,33 um em unidades tanto públicas como privadas;29 um apenas em instituições privadas,25 e um não definiu o tipo de instituição na qual o estudo foi realizado. 32

Cada artigo apresentava uma ou mais atividades de EAN com estratégias voltadas para avaliar o conhecimento sobre AAS e/ou mudanças de consumo alimentar. Observou-se que as atividades mais adotadas com os pré-escolares foram as lúdicas que incluíram oficinas de pintura,32 peças de teatro,24 fantoches,31 álbuns de figurinhas,24 brincadeiras,24,31,32 músicas,29 jogos27,29,31,32 e construção de histórias temáticas sobre nutrição que utilizaram personagens fictícios. 24,25,32 A atividade de horta escolar foi aplicada somente em um estudo. 29 Essa atividade consistia em: fazer com que as crianças cuidassem das plantas agrícolas e preparassem o solo (semeando e irrigando) e por fim, os vegetais eram colhidos e consumidos na escola e em suas casas.

Das atividades de EAN que foram realizadas com os pais, as que promoviam reuniões e aconselhamentos foram as mais frequentes, abordando como temática os princípios da alimentação saudável na infância31,33 e aconselhamento nutricional básico. 27,32 Já a entrega de cartilhas educativas com informações sobre uma AAS com o intuito de fundamentar o conhecimento, foi a menos realizada. 28,32

Em relação ao grupo dos profissionais, professores e colaboradores, as capacitações que ensinavam o preparo e porcionamento correto dos alimentos,24,30,31 assim como boas práticas de higiene pessoal e de manuseio de alimentos, foram as atividades de EAN mais realizadas. 31 A disposição de cartazes33 nos locais de trabalho para instruir o conhecimento sobre AM, consistência dos alimentos, oferta de alimentos rejeitados novamente, AAS e alimentos a serem evitados foi a menos explorada.

No que diz respeito à avaliação das atividades de EAN implementadas na comunidade escolar, a ferramenta mais utilizada foi a aplicação de questionários antes e após a intervenção com o intuito de conhecer sobre AM,33 alimentação complementar,33 conhecimentos e preferências de lanches,26 frequência alimentar,27,28,32 conhecimento nutricional,28,32 atitudes alimentares relacionadas ao consumo de hortaliças29 e também acerca de dados sócio demográficos28,32 para associar o perfil da população à outros questionários. Por outro lado, apenas um estudo aplicou o método do índice de qualidade da dieta revisado (IQD-R),31 que mensura vários fatores de riscos dietéticos para doenças crônicas, permitindo, simultaneamente, avaliar e monitorar a dieta em nível individual ou populacional.

Foi realizada a análise de qualificação metodológica das pesquisas selecionadas sem a perspectiva de exclusão de qualquer estudo. Essa análise indicou a baixa qualidade de evidência desses, que obtiveram uma pontuação entre 10 e 20 pontos (Tabela 2).

 




Discussão

Esta revisão encontrou associações positivas entre as atividades de EAN, como meio de promover a AAS em UEI. Piziak et al. ,27 em um dos estudos incluídos, trouxe uma atividade de intervenção estruturalmente lúdica, seguindo o modelo de jogo de bingo, com impacto positivo no consumo de vegetais fora do ambiente educacional. De forma semelhante, o artigo de Ferreira et al. 34 apresentou atividade de jogo de bingo com escolares de 5° série do ensino fundamental, que também contribuiu para a melhoria do ensino e aprendizagem dos diferentes tipos de alimentos e de suas características nutricionais.

Atividades de EAN que envolvem os pré-escolares de maneira ativa possibilitam colocar em prática o conhecimento transmitido. Dessa forma, propiciam tanto o desenvolvimento cognitivo, que possibilita dar sentido às informações recebidas, quanto o desenvolvimento afetivo, que encoraja o pré-escolar a interagir, lembrar e entender a informação de uma forma pessoal e emocional. 35

Cabe ressaltar que, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EI e a Base Nacional Curricular Comum, os eixos estruturantes das práticas pedagógicas desta etapa são as interações e as brincadeiras. Tais eixos apresentam-se como potenciais para o desenvolvimento integral das crianças, desempenhando um papel ativo nos ambientes e auxiliando o aprendizado. Esses reforçam a importância da utilização do lúdico como meio de estabelecer qualquer tipo de atividade educativa. 36,37

Outros autores dos estudos selecionados, como Rosa et al. 24 e Kim et al. ,25 trouxeram atividade de EAN baseada em contos de histórias com personagens fictícios. Em ambos, após a intervenção, houve aumento significativo no consumo dos alimentos incentivados durante a atividade educativa. Enquanto no primeiro também foi notado a ampliação do conhecimento com citações dos pré-escolares a respeito das abordagens educativas, o segundo estudo destacou um aumento do consumo de fast food pelo grupo controle. Tais achados corroboram com os relatos de Drewnowski38 e de Millen et al. 39 acerca da adoção de padrão alimentar com elevada densidade energética, rico em açúcares e lipídios e um estilo de vida sedentário por sociedades modernas e industrializadas.

A atividade de EAN menos utilizada entre os estudos analisados foi a horta alimentar, apesar de o estudo de Miguel et al. 29 apontar evidências de aumento significativo do consumo de hortaliças. A menor implantação desse tipo de projeto possivelmente se deve a fatores como: baixa adesão de professores voluntários e da comunidade escolar, sobrecarga de tarefas e necessidade de cuidado diário com a horta e de recursos materiais. 40

No processo de educação alimentar, deve-se valorizar o envolvimento de toda a comunidade escolar, visto que a família possui suas responsabilidades, como transmissão de valores éticos, morais e humanos. 41,42 Nota-se que as reuniões e aconselhamentos foram as formas de inclusão dos pais mais aplicadas por serem maneiras diretas de comunicação.

Cândido et al. ,33 Baskale et al. ,32 Piziak et al. 27 e Andrade et al. ,31 ao realizarem as reuniões e aconselhamentos com os pais, tiveram o intuito de demonstrar as atividades realizadas com os pré-escolares e ampliar o conhecimento dos adultos sobre a temática. Isso porque crianças menores de cinco anos dependem dos seus pais para o consumo dos alimentos, sendo reflexo do ambiente familiar. 43 Além disso, segundo Paro,44 pais, presentes e participativos, incentivam mais os seus filhos, despertando neles uma melhor interação e desempenho acadêmico.

A atividade de EAN voltada para os responsáveis realizada com menor frequência foi a utilização de cartilhas educativas, como nos estudos de Baskale et al. 32 e Larsen et al. 28 Moreira45 aponta que nesse tipo de estratégia não há atribuição de significados pessoais, fazendo com que o conhecimento seja apenas armazenado e reproduzido de forma mecânica.

Outro pilar da comunidade escolar, são os profissionais que atuam nessas instituições de ensino. Observou-se que os mesmos foram incluídos em diversas atividades de EAN, sendo as de capacitação as mais frequentes. Como no artigo de Andrade et al. ,31 que implementou cursos de capacitação abordando os temas de "Boas práticas de higiene pessoal e de manuseio de alimentos" e "Preparo e porcionamento correto de alimentos". Já nos estudos de Rosa et al. 24 e Santos et al. ,30 a capacitação foi implementada não só como reforço do conhecimento sobre o tema, mas também para aprendizagem das modificações feitas no cardápio escolar. A formação profissional qualifica a execução das tarefas, melhora a produtividade e fortalece o papel dos profissionais como educadores. 46

A atividade de EAN com os profissionais utilizando cartazes foi descrita somente no estudo de Cândido et al. 33 A limitação desse tipo de abordagem pode relacionar-se a pouca atenção dada à informação contida em tais materiais, levando a poucos resultados eficazes. Os autores recomendam a utilização de atividade de EAN complementar, como reuniões. 33

Dentre todas as atividades de EAN citadas nos estudos selecionados, as que tiveram maior repercussão foram as que trabalharam com a interação diretamente com as crianças, por privilegiar os processos ativos que possibilitem um envolvimento permanente entre a teoria e a prática. 14 A interação, segundo Dal Soto,47 perpassa a compreensão da criança como um ser ativo e envolve a possibilidade de descoberta, transformação e produção de conhecimento nesses espaços educativos. Brigatto et al. 48 indicam que é possível compreender que as brincadeiras são como uma transição entre a absoluta dependência da situação imediata, que caracteriza os primeiros anos de vida, e a possibilidade do pensamento liberto das situações reais, que constitui uma conquista tardia do desenvolvimento humano.

Para constatar a eficácia das atividades de EAN aplicadas, os questionários foram o método de avaliação mais frequente, aplicados antes e após as intervenções, com exceção de Baskale et al. ,32 que também o aplicou um ano após a execução do projeto. Contudo, Bizzo et al. 49 aponta que para a eficácia da educação nutricional, a criança deve ser submetida a uma avaliação constante de suas práticas e indicadores efetivos de saúde, no decorrer do processo educativo. Outro aspecto a ser valorizado seria o replanejamento para o aperfeiçoamento, pois uma avaliação global, preocupada com a aprendizagem, pressupõe acolhimento, tendo em vista a transformação a longo prazo. 49

Notou-se que os questionários aplicados nos estudos selecionados não tinham um padrão de formulação e estrutura em comum e, na maioria, não eram validados. Segundo Gil50 o questionário é limitante e proporciona resultados bastante críticos em relação à objetividade, pois os itens podem ter significados diferentes para cada sujeito e traz incertezas sobre as veracidades das informações. Vargas et al. 51 ressalta que esse método não deve ser usado de forma isolada, pois não propicia um acompanhamento mais próximo ao respondente. Sendo assim, há a possibilidade de os resultados terem sido sub ou superestimados. Tal fato reforça a ideia de que devam-se desenvolver e utilizar métodos mais apropriados para avaliar todo processo de EAN de acordo com as especificidades do público alvo. 51

O método de avaliação menos utilizado foi o IQD-R encontrado no estudo de Andrade et al. 31 Embora o IQD-R seja um método avaliativo eficaz, ele somente pode ser aplicado quando realmente há uma intervenção onde há a quantificação da dieta, demandando tempo, tabulação dos dados, profissionais treinados e recursos que dificultam a sua aplicabilidade. 52

Observou-se também uma grande variabilidade na duração das atividades de EAN desenvolvidas nos estudos. Todavia, todos os resultados foram pontuais e não tiveram continuidade relatada após as intervenções, o que pode representar uma limitação na presente revisão. Outra limitação do presente estudo foi o baixo número de artigos incluídos, devido a maioria de atividades de EAN serem aplicadas tanto com pré-escolares quanto com escolares e não apresentarem análises separadas para cada população. Diante desta limitação, é sabido que revisões sistemáticas realizadas com poucos artigos e de baixa qualidade de evidência podem gerar um efeito superestimado. 53

O fato da qualificação metodológica dos estudos ter sido considerada baixa pode estar relacionado às limitações dos próprios estudos incluídos nesta revisão, como os tipos de desenhos de estudos adotados pelos autores, o tempo e a falta de continuidade das intervenções, bem como o tamanho amostral. As limitações referidas sinalizam para a necessidade de investimentos na realização de estudos que se proponham a avaliar as repercussões das atividades de EAN a longo prazo na comunidade escolar.

Como conclusão, o envolvimento das crianças nas atividades de EAN, especialmente lúdicas, parece ser uma estratégia promissora para a formação de hábitos alimentares saudáveis. Para além das crianças, o engajamento de toda comunidade escolar no processo de ensino e aprendizagem é importante para formação pessoal do pré-escolar e transmissão de valores éticos, morais, culturais e humanos.

Nesse sentido, faz-se necessário o investimento na validação de instrumentos que permitam a realização de estudos mais robustos de avaliação da EAN como meio de promover a saúde na EI. Dessa forma, será possível a replicação desses e sua comparabilidade, favorecendo a construção de arcabouço teórico consistente e elucidativo.


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Recebido em 15 de Junho de 2022
Versão final apresentada em 5 de Novembro de 2022
Aprovado em 14 de Novembro de 2022

Editor Associado: Noemia Siqueira

Contribuição dos autores: Moreira JMA e Barbosa MF: conceituação (igual), Curadoria de dados (igual), Análise formal (igual), Investigação (igual), Metodologia (igual), Administração de projeto (igual), Software (igual), Escrita - rascunho original (igual), Escrita - revisão e edição (igual).

Febrone RR e Rito RVVF: conceituação (igual), Análise formal (igual), Investigação (igual), Metodologia (igual), Administração de projeto (igual), Supervisão (igual), Escrita - rascunho original (igual), Escrita - revisão e edição (igual).

Castro CS e Pereira LS: conceituação (igual), Análise formal (igual), Metodologia (igual), Visualização (igual), Escrita - revisão e edição (igual).

Os autores aprovaram a versão final do artigo e declaram não haver conflito de interesse.

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