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Qualis Capes Quadriênio 2017-2020 - B1 em medicina I, II e III, saúde coletiva
Versão on-line ISSN: 1806-9804
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Vieses na associação com as complicações de puerperas durante a pandemia

Milena Oliveira Leite1; Ana Paula Rabelo Matheus2; Matheus Porto Alves3; Letícia Rocha Sobral4; Karina Santos Silva5; Johnnatas Mikael Lopes6

DOI: 10.1590/1806-9304202300000151 e20230151

O assoalho pélvico é composto por um grupo de músculos e ligamentos conectados a estruturas ósseas que se fundem e sustentam os órgãos abdominais e pélvicos que durante a gestação sofrem maior pressão.1 Durante o parto, pode haver danos miogênicos, neurogênicos e/ou danos que, em maioria, são alterações reversíveis.1 Podemos ter lacerações perineais durante o parto vaginal; prolapso de órgãos pélvicos, protrusão desses órgãos através da abertura vaginal; incontinência urinária; disfunção sexual por conta da dor durante a relação sexual, diminuição da libido.1,2 É importante destacar que nem todas as mulheres enfrentam complicações na parede pélvica durante o trabalho de parto. Existem estratégias preventivas e terapêuticas disponíveis, pré, durante e pós parto para minimizar o impacto dessas complicações.1

Durante a pandemia, as maternidades mantiveram seu funcionamento, porém com algumas medidas de prevenção contra o vírus Sars-Cov-2, visto que as gestantes entraram como grupo de risco para desenvolvimento da Covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde. Além disso, a doença possui alta infectividade, tendo impacto na saúde materna e perinatal, além da necessidade da proteção da equipe profissional.3,4 Uma das medidas adquiridas em algumas maternidades foi o impedimento do acompanhante durante o parto, entretanto resultava em desgaste emocional e sensação de desamparo para as parturientes, corroborando para a quebra das trocas sensoriais e interativas entre familiares e bebê.3 Com isso, notou-se que as gestantes sofreram bastante com essa dificuldade durante a pandemia.

O estudo de Nandi et al.5 aborda as complicações perineais do pós-parto no período pandêmico da Covid-19. Sabiamente, os autores abordam condicionantes clinico-gestacionais assim como os contextuais na associação com o surgimento de complicações no pós-parto.

Contudo, o intuito de estimar os efeitos principais dos supostos condicionantes, os autores aplicam uma abordagem analítica não apropriada para o desenho, a regressão logística binária com a medida de efeito sendo a razão de chances. Esta abordagem em estudos transversais e longitudinais com frequência acima de 10% produz estimativas pontuais e intervalares superdimensionadas.6

Isto pode acarretar situações onde uma variável independe que seria significativa no modelo passasse a não, como a variável "COVID durante a gestação", devido à imprecisão demasiada dos intervalos de confiança, os quais também geram imprecisão nas tomadas de decisão de magnitude de intervenções como na variável "internada na gestação". Além disso, nos estudos de síntese como as revisões sistemáticas com metanálise, colabora para ausência de efeito de variáveis potencialmente relacionadas. Tudo isso se configura no aumento da probabilidade tanto de falsos negativos ou falsos positivos.

Portanto, sugerimos que os autores analisem seus dados aplicando uma abordagem para desenhos prospectivos, pois as variáveis independentes são claramente anteriores ao desfecho, através da regressão de Poisson.6 Esta mesma abordagem analítica por ser utilizada num desenho transversal caso os autores entendam ser este desenho.


Referências

1. Stroeder R, Radasona J, Clemens L, Gerlinger C, Schmidt G, Sklavounos P, et al. Urogynecology in obstetrics: impact of pregnancy and delivery on pelvic floor disorders, a prospective longitudinal observational pilot study. Arch Gynecol Obstet. 2021 Aug; 304 (2): 401-8.

2. Tayrac R, Schantz C. Lésions pelvipérinéales obstétricales: anatomie, physiologie, physiopathologie et situations particulières. RPC prévention et protection périnéale en obstétrique CNGOF [Childbirth pelvic floor trauma: Anatomy, physiology, pathophysiology and special situations - CNGOF perineal prevention and protection in obstetrics guidelines]. Gynecol Obstet Fertil Senol. 2018 Dec; 46 (12): 900-12. French.

3. Mittelbach J, Albuquerque GSC. A pandemia de Covid-19 como justificativa para ações discriminatórias: viés racial na seletividade do direito a acompanhante ao parto. Trab Educ Saúde. 2022; 20: e00332163.

4. Chmielewska B, Barratt I, Townsend R, Kalafat E, van der Meulen J, Gurol-Urganci I, et al. Effects of the COVID-19 pandemic on maternal and perinatal outcomes: a systematic review and meta-analysis. Lancet. Global Health. 2021 Jun; 9 (6): e759-72.

5. Nandi VL, Knobel R, Pereira JG, Rocha MNMC, Arruda YLG, Trapani Junior A, et al. Measurement of the prevalence of intervention/complication in puerperal women attending a university hospital during the pandemic of COVID-19 by the maternity safety thermometer. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2022; 22 (4): 923-32.

6. Knol MJ, Le Cessie S, Algra A, Vandenbroucke JP, Groenwold RH. Overestimation of risk ratios by odds ratios in trials and cohort studies: alternatives to logistic regression. CMAJ. 2012 May; 184 (8): 895-9.

Contribuição dos autores: Leite MO, Matheus APR, Alves MP, Sobral LR e Silva KS: investigação, metodologia, escrita - rascunho original, escrita - revisão e edição. Lopes JM: conceituação, análise formal, investigação, metodologia, administração de projeto, supervisão, validação, visualização, escrita - rascunho original, escrita - revisão e edição. Todos os autores aprovaram a versão final do artigo e declaram não haver conflito de interesses.

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