A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, tendo como sigla, a Rede PENSSAN, parece não ter ainda história consolidada. Quem de oitiva desperte, num instante ao acaso, da carga tumultuária ou sistemática de acontecimentos, de notificações marcadas por memórias individuais ou coletivas, com sua informação ou mensagens veiculadas pelo tempo antes depois ou do passado para agora, como algo que venha ficar como lembrança que se pode atualizar, isto pode assumir uma lembrança histórica.
Não seria ainda o caso da Rede PENSSAN, só agora puxando alguns fios desse emaranhado que, aos poucos, vai ganhando as características de uma rede histórica. Bom, já fica presumido que a nossa rede é ainda um anúncio a caminho da validação. Não assume, ainda, a consistência de uma rede, muitos, muitíssimos fios, como da história de uma tecelagem. É uma imagem ainda didática precursora, fio após fio, até que o "front" da história venha consolidar suas conexões, seus arranjos de variáveis, seus fios banhados pelo líquido cefalorraquidiano, desde as circunvoluções que se espalham de cima à baixo, do córtex cinzento das funções do chamado palio cérebro até terminações que, de fato, possam transitar nos canais da medula, suas aberturas superpostas, tudo continuando-se como na caprichosa arquitetura de janelas, de raízes escalonadas na dureza dos ossos, fazendo das fibras canais esculpidos para fluxos centrais e laterais.
Deixando aos poucos as derivações desta corrida arquitetada, construída de cima para baixo, como um "andaime" invertido, aqui já se esboça a escadinha que desce da caixa fechada/aberta do crânio até a cauda falsa do sacro, onde escorrem as terminações lombo/sacrais. E agora o apelo da PENSSAN, em nome de uma equipe que predominam brasileiros de uns dez ou doze estados, com suas antenas de captação/emissão fincadas, como no mundo fantástico de Casimiro de Abreu. É um mundo de encantamento que vai sendo edificado pouco a pouco, vértebra a vértebra, canal a canal. É um mundo de comunicação articulando, sugestivamente, com instituições internacionais já muito bem consolidadas, mas que sempre vão encontrando, em muitíssimos casos, fendas e brechas que vão rapidamente se constituindo em novas alternativas. É o universo de simetria visual, da poesia e da comunicação.
Lembrando um pouco, aprendendo muito e agindo com a pressa de quem tem pouco tempo para mudar o Brasil que, elegendo as questões da fome como a grande prioridade de governo, depois de figurar na resenha como um dos países do mundo mais afetado pelo peso de questões econômicas e escassez de alimentos, é o que tem de mais atual e relevante.
Abrindo as páginas da Oxfam (organização global que atua no combate à fome e desigualdade em 87 países) com duas mãos bem generosas, complementadas em conchas manuais como se fossem recursos para aumentar a visão dos próprios olhos, o relatório da pesquisa Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, assegura de fato e de direito, chama a atenção para o gravíssimo problema que reaparece com a extinção do Conselho de Segurança Alimentar que, como fato mais motivacional, conseguiu dentre de dois mandatos presidenciais, retirar o Brasil do Mapa da Fome.
1,2 De fato, esta condição já fora classicamente reconhecida quando Josué de Castro lançou no Brasil em 11 edições sucessivas, A Geografia da Fome (em 1946),
3 seguido de Geopolítica da Fome cinco anos depois (1951),
4 ao lado talvez do Livro Negro da Fome (1957).
5Com todas as "sequelas" e "traumas" de uma rede pública em construção, a implantação da PENSSAN nos faz pensar, e deixando a forte impressão do que está de fato acontecendo é que os livros de Josué de Castro e vários desdobramentos dentro e fora do Brasil teria de fato gerado uma consciência política, uma voz de cidadania universal como lâmpada de intensa luminosidade. Assim, de forma que as agendas internacionais se mantem atentas para os apelos da paz, que Josué de Castro simboliza como o próprio espírito da paz edificado na superação da fome, como condição ética da própria rigidez, supera de forma sadia qualquer outro espírito que não seja de grandeza ou fraternidade. É a sagração ou mensagem final em mais uma réplica clássica. Vamos ficar com essa imagem, espírito de paz dos livros e da própria vida de Josué de Castro.
Na medida em que a Oxfam, há um bom tempo, ao lado de outras agências internacionais, abrindo suas páginas se sensibiliza para as mensagens informativas que registram, selecionam e descrevem informações "audíveis" que notificam eventos dignos de registros que podem, de fato, realimentar os circuitos das agências atentas e logicamente sólidas para os usuários das respostas oficiais dos órgãos que afinal fazem no seu nível as oportunas propostas operativas das ações de governo.
Referências1. Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN). Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. REDE PENSSAN; 2021. [acesso em 2023 Mar 15]. Disponível em:
https://olheparaafome.com.br/VIGISAN_Inseguranca_alimentar.pdf2. Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN). II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. II VIGISAN: relatório final. São Paulo (SP): Fundação Friedrich Ebert: Rede PENSSAN; 2022. [acesso em 2023 Mar 15]. Disponível em:
https://olheparaafome.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Relatorio-II-VIGISAN-2022.pdf3. Castro J. Geografia da Fome. Rio de Janeiro: O Cruzeiro; 1946.
4. Castro J. Geopolítica da Fome. 3ª ed. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil; 1954.
5. Castro J. O Livro Negro da Fome. São Paulo: Brasiliense; 1957.
Recebido em 4 de Abril de 2023
Versão final apresentada em 17 de Abril de 2023
Aprovado em 20 de Abril de 2023
Editor Associado: Lygia Vanderlei
Contribuição dos autores: Todos os autores contribuíram igualmente na concepção do artigo e declaram não haver conflito de interesse.